Reforma sob medida: para quem?
- Enio Alexandre
- há 2 horas
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Tome Nota com Enio Alexandre

A conta vai ficar cara em 10 anos
Joinville é uma cidade que cresce. Seus problemas também. Mas a solução, ao que parece, continua do mesmo tamanho: cargos. Muitos cargos. O prefeito Adriano Silva (NOVO) protocolou na Câmara nada menos que 19 projetos que compõem a tão falada Reforma Administrativa da Prefeitura.
Na propaganda oficial, o discurso vem pronto: "Expandir a capacidade de atendimento à população". Um clássico. Em tese, a ideia é nobre. Na prática, o que se vê é uma reforma sob medida para atender às demandas políticas dos partidos que sustentaram o prefeito nas urnas e que agora cobram – com toda razão dentro da lógica eleitoral – sua fatia na máquina pública.
Segundo o governo, o impacto será de "apenas 1,4%" do orçamento anual, ou cerca de R$ 80,4 milhões por ano. Parece pouco, num orçamento de R$ 5,7 bilhões. Mas multiplique isso por dez anos (porque nenhum cargo comissionado costuma durar só um mandato), e o número passa fácil dos R$ 1 bilhão, já considerando 13 salários por ano (sim, o décimo terceiro também entra na conta do contribuinte).
R$ 80,4 milhões x 13 salários = R$ 1,045 bilhão em 10 anos
Isso sem considerar reajustes futuros, gratificações e outros penduricalhos que adoram se multiplicar.
Enquanto isso, o cidadão comum continua pagando tarifa do lixo muito cara com serviço ruim, enfrentando fila para consulta médica, buraco no asfalto e ônibus lotado. Mas agora com uma gestão "mais moderna", "mais técnica" e com cargos "mais adequados". Ao menos, é o que se promete.
E claro, há exemplos positivos. A Educação avançou no ranking do IDEB – mérito, sem dúvida, de muitos profissionais comprometidos. Mas será que o salto de qualidade é consequência direta de mais cargos? Ou de investimento em formação, estrutura e valorização real? E logicamente pouco tem de relação com o atual governo.
Fato é que a máquina vai crescer. E, como toda engrenagem pública inflada, alguém vai pagar essa conta: o contribuinte. Aquele que nem sempre tem tempo ou voz para entender o que está por trás de termos como "reestruturação", "ajuste de jornada" ou "revisão de auxílio-alimentação".
No fim, a pergunta que fica não é se a cidade precisa de mais servidores — ela precisa de melhores serviços. O que se questiona é para quem essa reforma realmente foi feita. E como, mais uma vez, o interesse público entra de carona em um projeto que parece feito sob medida... para poucos.
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