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Pais e escolas: seus filhos e alunos estão envolvidos com perfis “explana”?

Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes

♫ “People are strange when you’re a stranger/ Faces look ugly when you’re alone/ Women seem wicked when you’re unwanted/ Streets are uneven when you’re down”♫ (People are strange; The Doors)


A ascensão dos chamados perfis “explana” nas redes sociais representa uma preocupante manifestação de cyberbullying entre adolescentes brasileiros. Esses perfis, geralmente anônimos e vinculados a instituições escolares, têm se tornado plataformas para a exposição pública de colegas, disseminando boatos, imagens íntimas (reais ou manipuladas) e ofensas que extrapolam o ambiente virtual, impactando diretamente a vida escolar e emocional das vítimas.


São perfis normalmente privados e que não têm publicação no feed (em regra, apenas nos stories) e se alimentam da curiosidade mórbida da adolescência e da juventude, com, em frequência indesejável, pitadas fortes de maldades contra as vítimas.


Cyberbullying transbordando muros


Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) revelou que esses perfis são utilizados para a propagação de preconceitos e intimidações relacionados a aspectos sociais como raça, classe, gênero, religião e local de moradia. A pesquisa destaca que a propagação de memes, imagens e informações falsas nesses perfis altera a dinâmica do ambiente escolar e o comportamento dos alunos, muitas vezes sem que a escola produza um espaço de diálogo ou aprendizado para administrar os conflitos.


Pior, muitas vezes as escolas nem percebem o que está acontecendo!


“Explanar” não é propriamente uma novidade. Casos concretos já são relatados pela imprensa desde 2022 e ilustram a gravidade do problema. Naquele ano, uma estudante do 9º ano de uma escola em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, foi “explanada” após um vídeo íntimo seu ser vazado nas redes sociais. A direção da escola não conseguiu identificar os responsáveis pela postagem, e a garota precisou de acompanhamento médico. Infelizmente esse não é um exemplo isolado e o problema só aumenta. É difícil, hoje, uma escola que não tenha associado um ou mais perfis “explana”.


Responsabilidade compartilhada: pais, escolas e poder público


A responsabilidade por combater esse tipo de violência digital é tanto das escolas quanto dos pais. As instituições de ensino deveriam implementar políticas claras de uso das tecnologias digitais, promovendo a educação para o uso ético e responsável das redes sociais. Além disso, é fundamental que ofereçam suporte psicológico às vítimas e estabeleçam canais de denúncia acessíveis e eficazes.


Os pais, por sua vez, devem estar atentos ao comportamento online de seus filhos, dialogando sobre os riscos e consequências do cyberbullying. A supervisão ativa e a educação para a empatia e o respeito são essenciais para prevenir a participação dos jovens em práticas de exposição e humilhação de colegas. E, da mesma forma, devem cobrar das escolas as medidas que sugeri acima.


A legislação brasileira também tem avançado no enfrentamento ao cyberbullying. A Lei nº 14.811/2024 estabelece que os municípios, em cooperação com os Estados e a União, adotem protocolos de proteção às crianças e adolescentes contra todas as formas de violência no ambiente escolar, incluindo o bullying e o cyberbullying, prevendo punições para os responsáveis por essas práticas.


A complexidade do fenômeno dos perfis “explana” exige uma abordagem multidisciplinar e colaborativa. Somente com a união de esforços entre escolas, famílias, autoridades e a sociedade civil será possível criar um ambiente escolar seguro e acolhedor, onde o respeito e a dignidade de cada estudante sejam preservados.


Em tempo: as crianças, adolescentes e jovens dão sinais e cabe aos pais e professores ficarem atentos.




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