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O Tigrinho sempre vence

Foto do escritor: Enio AlexandreEnio Alexandre

Tome Nota com Enio Alexandre

Essa figurinha fofinha é muito mais perigosa do que parece


O Brasil vive uma era de promessas fáceis. Entre anúncios coloridos e influenciadores sorridentes, surge a ilusão do enriquecimento instantâneo, a chance de transformar poucos reais em uma fortuna. E é nesse cenário que o “Jogo do Tigrinho” reina soberano, piscando luzes, rugindo promessas — e devorando sonhos.


Em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, a história tomou contornos de tragédia moderna. A estudante de direito Cláudia Roberta Silva, vista pelos colegas como líder dedicada e cheia de iniciativa, acabou seduzida pelo brilho das apostas online. Em pouco tempo o dinheiro arrecadado para a festa de formatura — quase R$ 77 mil — não chegou à empresa responsável pelo evento. Foi engolido pelo nada inofensivo Tigrinho.


No começo, deve ter parecido uma boa ideia utilizar o dinheiro dos colegas. Talvez uma tentativa de dobrar o valor e impressionar a turma com uma festa ainda mais grandiosa. Mas quem joga com a sorte nem sempre percebe quando cruza a linha da diversão para o vício. E foi assim que a estudante, em vez de construir memórias para a formatura, assistiu ao dinheiro desaparecer, clique após clique.


O Jogo do Tigrinho representa uma epidemia que já começa a tomar forma no Brasil. Entre promessas de ganhos fáceis e a sensação de controle, muitos acabam por comprometer não apenas suas finanças, mas também suas relações, sua saúde mental — e, como vimos em Chapecó, os sonhos coletivos.


Os viciados em jogos, em drogas ou bebidas têm uma coisa em comum: eles sempre acreditam que conseguem parar na hora que desejarem. Quando finalmente percebem, o estrago já está feito.


A regulamentação das apostas online no Brasil chega tarde, enquanto histórias como essa se multiplicam. Famílias endividadas, jovens apostando o pouco que têm, profissionais comprometendo salários futuros em busca do golpe de sorte. Como qualquer vício, o jogo deixa rastros: decepção, vergonha, desespero.


Enquanto isso, os colegas de Cláudia, que sonhavam com uma noite de celebração depois de anos de esforço, ficaram apenas com o vazio. A festa não aconteceu. O brilho das luzes da formatura foi substituído pela dura realidade de um extrato bancário zerado.


Resta agora a esperança de que a justiça consiga recuperar parte desse valor, que Cláudia encontre o tratamento necessário e que essa história sirva de alerta. Porque, no final das contas, o Tigrinho sempre ganha. E os jogadores, quase sempre, perdem muito mais do que dinheiro.




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