Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes
Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci
“♫ Ainda leva uma cara/ Pra gente poder dar risada/ Assim caminha a humanidade/ Com passos de formiga/ E sem vontade” (Assim caminha a humanidade, Lulu Santos).
Mais ou menos dessa forma Arthur Schopenhauer definiu, certa vez, o ser humano. De fato, o ser humano está sempre desejando, desejando mais, desejando algo melhor, ou desejando o pior para o próximo. Schopenhauer é conhecido como um filósofo pessimista. Talvez, em alguns aspectos, seja apenas realista.
Sob outra ótica, outro filósofo, Jean Jacques Rousseau, dizia que o homem nasce bom e é a sociedade que o corrompe. Contrapondo este entendimento, Thomas Hobbes defendia que o homem nasce mau e precisa de um Estado para controlá-lo. Vendo o que estamos vendo, tendo a reforçar minha concordância com Hobbes e com Schopenhauer.
A autoafirmação
Não basta as pessoas exporem suas opiniões. Em tempos de redes sociais e aplicativos de conversas, elas têm que estar integradas a algum grupo e, mais do que isso, validar suas compreensões de tudo, mesmo que balizadas ou baseadas nas teorias e nos argumentos mais estapafúrdios possíveis. E impor a todos.
Caso alguém alerte sobre eventual bizarrice de pensamento dessa pessoa, passa a ser tratada como inimiga, traidora, alienada ou do outro extremo político, qualquer que seja.
Nas redes sociais e nos aplicativos de conversas, essas pessoas vociferam pensamentos escabrosos, retirando do seu mais fundo âmago complexos e preconceitos que estavam lá devidamente guardados e resguardados para o bem delas próprias, dos outros, das famílias e da sociedade. Agora parece estarmos vivendo um verdadeiro vale tudo pseudointelectual, onde argumentos sem bases fáticas ou científicas se proliferam, colocando em risco a saúde mental e a vida das outras pessoas.
A onda cresce e a turba não tem face; tem faces. E nessa toada, o efeito manada é o perigo iminente. A psicologia explica este efeito como o comportamento coletivo replicado. Pode não ter efeito deletério mais importante, quando, por exemplo, pessoas de um grupo resolvem usar todas as roupas de uma determinada moda ou tendência; como pode ter efeitos trágicos, quando alguém morre porque, irracionalmente, em bando, é atacada. As pessoas se tornam isso: irracionais e perversas.
As fake news
A morte, nesses casos de efeito mandada, pode ser tanto física quanto moral. A vítima pode ser linchada no meio da rua até ser escalpelada ou queimada viva, como pode ser linchada no mundo virtual, sofrendo agressões contra sua honra, ou alvo de cancelamentos. Em um ou outro caso, normalmente não tem condições de se defender.
As fake news podem ser um perfeito catalisador para ambos os formatos de linchamento. Intencionais ou não, podem acabar com a vida de uma pessoa, de uma família, de uma empresa.
As pessoas estão ávidas pela notoriedade, pelo pertencimento e por terem razão sobre tudo. Isso faz com que tenham a necessidade de serem as primeiras ou as mais rápidas a comunicarem qualquer coisa, especialmente as fake news que validem suas opiniões ou vontades. Muitas mensagens, inclusive, vêm com o nada justificado “não sei se é verdade, mas compartilho mesmo assim” ou “parece fake news, mas acho importante compartilhar”.
Razoabilidade e bom senso zero. Irresponsabilidade dez. E assim caminha a humanidade, com seus homens desejando infinitamente alguma coisa, a passos de formiga e sem vontade real de sair do seu mundo umbilical
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