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Neto Petters: O que mudou?

Tome Nota com Enio Alexandre

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foto: Partido Novo


Conheci o vereador Neto Petters antes de ele ser vereador. Era o tempo em que ele ainda tinha fome — não de cargo, mas de coerência. Naquele período, era fácil vê-lo bradando nas redes sociais, nas entrevistas, nos corredores da política local, contra os aluguéis da Prefeitura de Joinville. O alvo era o governo Udo Döhler, e Petters, um jovem determinado do Partido Novo, fazia questão de mostrar que sabia fazer contas e que o dinheiro público precisava de zelo.


Lembro de sua defesa firme dos interesses coletivos, do discurso sempre em linha com a cartilha da boa gestão, da transparência, da eficiência. Parecia mesmo alguém fora da curva, capaz de resistir ao canto de sereia da política tradicional.


Mas o tempo passou — e com ele, algumas posturas parecem ter se adaptado ao ambiente.


Durante uma entrevista que me concedeu na Rádio Máxima Hits, já como vereador e com o seu partido comandando o Executivo, tive a impressão de estar diante de um outro Neto Petters. Falamos novamente sobre os aluguéis, agora sob a gestão Adriano Silva. E ali, com uma sinceridade que merece ser registrada, ele admitiu: não houve avanços. Nada mudou. O discurso que antes era contundente, agora era mais cauteloso, talvez pela responsabilidade de quem agora também governa.


Mais adiante, veio o episódio da nova sede alugada da Companhia Águas de Joinville — alvo de investigação na Câmara. O proprietário do imóvel, em depoimento, afirmou que o acordo foi feito "no fio do bigode". Uma frase que, em outro momento, certamente despertaria reações mais incisivas. Mas desta vez, não houve desconforto público, pelo menos não na mesma intensidade de antes.


Agora, chega a proposta de reforma administrativa da Prefeitura. Na prática, a medida aumenta salários de secretários e cria novos cargos comissionados — espaços importantes para abrigar lideranças de partidos que se coligaram ao Novo no projeto de reeleição do prefeito Adriano Silva. A justificativa usada é a de que a iniciativa privada também valoriza seus gestores e contrata gente quando há muito trabalho.


Mas quem vive a iniciativa privada sabe que, atualmente, o foco é fazer mais com menos. Cortar custos, otimizar processos, buscar resultados com estruturas mais enxutas. É curioso ver essa comparação ser usada para justificar exatamente o contrário.


Diante disso, o que se esperava era algum nível de ponderação, até mesmo entre aliados do governo. Mas o que se viu foi Neto Petters defender com convicção a proposta, completamente alinhado ao discurso do Executivo. O mesmo vereador que criticava o inchaço, agora o justifica — talvez por acreditar, sinceramente, que é o melhor caminho.


E é justamente aí que mora a complexidade. A política exige equilíbrio. E é compreensível que quem passa a ocupar cargos de responsabilidade tenha que rever posições, entender a máquina por dentro, ajustar expectativas. O que preocupa é quando esse movimento deixa para trás o olhar crítico, a independência de pensamento, a capacidade de dizer "não" quando necessário.


Hoje, entre os 19 vereadores, apenas cinco mantêm uma postura mais vigilante em relação ao Executivo. Os demais, por convicção ou conveniência, têm votado em bloco, muitas vezes sem o devido questionamento. Contam com o cansaço da população e com a memória curta dos eleitores — como se viu no aumento da taxa do lixo, que causou indignação por alguns dias, mas logo foi engolido pelo ritmo dos dias.


Nesta semana a vereadora Liliane da Frada, aliada do governo, que foi muito infeliz numa declaração sobre os caçadores legais, também recebeu a defesa intransigente do vereador. O que incomodou os integrantes do cac's de Joinville. O pedido de desculpas da parlamentar bastou para que Petters desse como superado o episódio. Não vimos a mesma solidariedade com o vereador Wilian Tonezi que não está no grupo de vereadores que apoiam o prefeito Adriano Silva.


Confesso: me decepcionei um pouco. Via em Neto Petters alguém com potencial para pensar diferente, tensionar o debate, apontar caminhos novos. Ainda acredito que essa capacidade esteja lá, adormecida talvez. Mas não posso deixar de registrar que, por ora, os ventos da conveniência sopraram mais forte.


A política tem mesmo esse poder estranho de moldar — ou adormecer — os que pareciam ser diferentes.


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1 comentário


edilson
17 de jul.

Boa material e bem colocada as palavras, os políticos de hoje é só decepção. Poucos, mas, poucos mesmo que se preocupam com um todo. Abraço meu querido Ênio Alexandre Sávio.

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