Disrupção: tudo com Raphael Rocha Lopes
O modelo da Terra plana é uma concepção defendida por teóricos conspiracionistas
“♫ And I wonder when/ We are ever gonna change/ Living under the fear/ Till nothing else remains/ We don't need another hero/ We don't need to know the way home/ All we want is life beyond/ The Thunderdome” (We don't need another hero, Tina Turner – composição Graham Lyle e Terry Britten).
A internet é fabulosa. Ela conseguiu conectar gênios de diversas partes do mundo e acelerar o processo de conhecimento em diversos aspectos. De vacinas em tempo recorde a inteligências artificiais capilarizadas, tudo ganhou velocidade e resultados.
A internet é fabulosa. E monstruosa. Conseguiu conectar acéfalos dos quatro cantos do mundo (já que a terra é plana, óbvio), fazendo-os parecer mais do que realmente são e iludindo algumas – ou muitas – pessoas com suas teorias conspiratórias bizarras sobre quase tudo. Tudo ganhou velocidade e resultados, nesse caso, ruins.
Os Novos Heróis
A humanidade sempre precisou de heróis. Pelo menos precisava quando se acreditava que deus estava dentro de um vulcão cuspindo fogo quando ficava bravo. Aquele que soubesse melhor conduzir a fuga ou ler os sinais divinos das lavas provavelmente seria o herói da vez. E coitadas das virgens dadas em sacrifício.
A humanidade foi evoluindo e ganhou salvadores da pátria, pais de pobres, caçadores de marajás, messias e sassás mutemas de todas as variedades, cores e naipes. E valores. Disse, já, alguma mente mais nobre, que feliz é o país que não precisa de heróis. De fato, quanto maior o nível de educação, menor a probabilidade de se esperar algum iluminado com uma poção de panaceia para resolver todos os males.
A fabulosa internet, porém, parece ter quebrado um pouco esses paradigmas. A impressão que tenho é que, ainda que aos trancos e barrancos, estamos evoluindo intelectualmente, estamos melhores do que há 50 ou 100 anos. Contudo, ao mesmo tempo, tenho a estranha sensação que brotam das ondas da internet pessoas ávidas por um herói que venha com sua espada justiceira com a visão além do alcance ou um ippon ou uma visão de calor ao estilo Capitão Pátria para matar todos os inimigos, sejam lá quem for. Parece que, com o advento da internet, Jesus tem muitos dentes no país dos banguelas, e os banguelas estão cegos.
A Cúpula do Trovão
Há, de alguns, a preocupação que, no futuro, com o avanço da tecnologia, a humanidade se depare com uma Skynet, aquela inteligência artificial dos filmes O Exterminador do Futuro, que comanda robôs e quer controlar tudo, inclusive as pessoas. E, daí, para um mundo Mad Max seria um passo relativamente pequeno.
Exageros à parte (ou não), quando Aunty Entity reflete se “vamos mudar vivendo sob o medo, até que não reste nada mais”, e que “não precisamos de outro herói”, parece estar falando nos dias de hoje. Esse raciocínio cai como uma luva nos tempos atuais.
Afinal, nós não precisamos saber o caminho de casa; tudo o que queremos (ou deveríamos querer) é uma vida além da internet e dos algoritmos e da polarização e da cizânia que eles andam provocando.
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