A importância de escolher o que comer: como nossos bisavós se alimentavam e adoeciam menos
foto: Agência Brasil
A vida moderna trouxe muitas mudanças na alimentação, e uma das principais está relacionada ao predomínio dos alimentos processados, algo que nossos bisavós desconheciam. "Hoje, as pessoas consomem 190 kg de ultraprocessados por ano por pessoa, em comparação com 800 gramas de legumes", afirma o nutricionista Rocío Hernández. Um dado contundente que contrasta com o que acontecia nas mesas de nossas famílias há oitenta anos.
Nossos bisavós saberiam o que é o pó para fazer suco, ou os biscoitos embalados, os snacks, os nuggets de frango ou os hambúrgueres? Em seu livro, "Reset: Medicina do Estilo de Vida", Gabriel Lapman, médico cardiologista, nefrologista e especialista em hipertensão arterial, considera que se mostrássemos a nossos bisavós a comida que comemos hoje, eles não a reconheceriam e, em vez disso, "se comêssemos como eles faziam, as doenças crônicas não seriam a principal causa de morte".
Eles se alimentavam sem a intervenção industrial exagerada que vemos hoje. Nesse sentido, o especialista afirma que a superindustrialização e manipulação dos ingredientes fizeram com que as safras e colheitas se tornassem mais resistentes e produtivas, mas também que os alimentos geneticamente modificados, o abuso de herbicidas e pesticidas tivessem um enorme impacto em nossa saúde. "Cada vez mais vemos casos de alergias alimentares, doenças autoimunes, que, embora tenham uma multicausalidade, precisamos prestar atenção a essas práticas industriais", diz ele. Além disso, a alimentação de "pacotes", "fast food" e "junk food" traz para Lapman as doenças do estilo de vida, como obesidade, hipertensão, colesterol alto, problemas coronários, acidentes vasculares cerebrais, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer, que incapacitam e encurtam nossa vida. "Um dado a ser considerado ao compararmos nosso estilo de vida com o de nossos bisavós é que uma criança de 8 anos consome mais açúcar em um dia do que eles em um semestre inteiro", adverte.
Mais simples, mais nutrientes
Para comparar como se comia antes e como comemos agora, Yael Hasbani, coach certificada em Saúde e Nutrição Holística, especializada em Saúde Intestinal pelo Institute for Integrative Nutrition de Nova York, convida-nos a fazer o exercício de pensar no que temos em nossos armários, em nossa geladeira. A pergunta que surge é: como preparamos nossas refeições diárias? "Quanto mais embalagens com listas de ingredientes impossíveis de entender, menos nutrientes. Adicionamos substâncias químicas como conservantes, emulsionantes, corantes, e todos esses aditivos retiram nutrientes. A reflexão que devemos fazer é simples: quantos ingredientes tem uma maçã? Nenhum. Quantos ingredientes tem um alfajor? Muitos. Portanto, quanto mais simples, mais completo. A chave da alimentação dos nossos bisavós era justamente a simplicidade e uma menor acessibilidade, ao contrário do que acontece agora. "Eles se alimentavam principalmente de produtos de origem vegetal, tinham uma alimentação integral baseada em plantas que limitava o consumo de alimentos de origem animal, pois os usavam para dar sabor, já que os laticínios, ovos e carnes eram um luxo", afirma Lapman. Dessa forma, ao ter acesso mais limitado, devido ao custo e à menor disponibilidade de carnes, isso teve consequências extremamente benéficas para a saúde deles.
Para a Nutricionista Jorgelina Latorraga, eles consumiam os mesmos grupos de alimentos que incorporamos agora, mas preparados de forma caseira. "Eles não ingeriam alimentos processados, como biscoitos doces e salgados, snacks, sucos embalados, cereais em flocos, salsichas, hambúrgueres prontos para consumo e embalados, pedaços de frango empanados", diz ela. Na época de nossos bisavós, os alimentos tinham menos etapas entre o produtor e a mesa, e não apenas as refeições eram caseiras, mas também se trabalhava no campo e se aproveitava a horta, as frutas das árvores, inclusive os ovos, frangos e vacas eram criados, alimentados e todas as partes eram aproveitadas.
Mudança de hábitos
O que precisaríamos modificar para voltar a esse tipo de alimentação? Comer alimentos integrais, completos em sua definição. "É simples, mas tudo conspira para escolher o fácil, o rápido. Temos que nos propor essa mudança com vontade e comprometimento conosco, com nossa saúde e a de nossa família", adverte o autor de "Reset". Para Hasbani, o planejamento das refeições é fundamental, assim como voltar à feira de hortifrúti e aos mercados de produtores ou ir à loja de produtos naturais, buscar grãos integrais, incorporar legumes, pensar sempre em vegetais e frutas como primeira opção e oferecê-los aos nossos filhos. Optar pelo caseiro, pelo mais natural possível. "Trata-se de abrir menos pacotes e cortar e descascar mais", garante.
Latorraga concorda que não estamos longe desse tipo de alimentação e que hoje há muita consciência sobre ser saudável e comer o que a natureza nos oferece na medida certa, também como uma forma de proteger o planeta. Ao mesmo tempo, ela admite: "não devemos renegar a industrialização, mas dar-lhe o lugar que merece". Nesse sentido, se todos voltarmos aos quintais, mercados, à organização familiar para fazer refeições caseiras, podemos superar-nos e fazer com que os alimentos processados fiquem disponíveis para momentos em que possam facilitar a vida, como a organização de um aniversário, ou para situações de contingência, ou apenas usar certos produtos aplicáveis à vida urbana, como macarrão, torradas ou pães embalados. O segredo está no equilíbrio", conclui a especialista em nutrição.
Com informações do Jornal La Nacion
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