LETRINHAS DO RDB
O que antes era um espetáculo, com personagens que dignificavam cada lance e todos seus detalhes, agora passou a ser tão difícil de aceitar as transformações que tiraram o brilho e a magnitude de um jogo. Passou a ser um simples episódio, mas com a grandiosidade que os holofotes podem dar brilho para o que não sobrevive com o brilho natural de quem deveria trazer sua própria luz.
Os cortes e pintura dos cabelos, as tatuagens que cobrem todo o rosto e grande parte do corpo, as chuteiras de cores berrantes, junto com as expressões ao invés de um melhor toque de bola. Assim se comporta quem deveria ser encarado como jogador de futebol, que passou a ser marionete ao invés de trazer um toque de bola com mais requinte.
A “bicicleta” de Leônidas da Silva, a “folha seca” de Didi, a impulsão, as cabeçadas de Pelé e as arrancadas e toques curtos de Romário são ingredientes de um futebol do passado. O presente não tem acrescentado absolutamente nada para colocar o nosso futebol em posição de destaque. Depois de 2002, o mundo nunca mais se curvou diante do talento brasileiro. A bola ficou murcha e o que inchou foram os penduricalhos de quem se intitula craque.
Alguns lances do jogo foram alterados diante da incapacidade atual. No lance manual, por exemplo, a bola só poderia ser recolocada em jogo quando era impulsionada quando estava sobre a cabeça do atleta. Agora, por um completo desleixo, a bola é acionada quando está na frente do rosto do jogador. No escanteio, a bola não precisa ficar mais dentro ou no limite da marcação, podendo assim o jogador ter mais ângulo para tentar o gol olímpico.
O que se via nas fotos dos primórdios, onde geralmente o goleiro aparecia deitado à frente dos demais jogadores, agora virou uma artimanha para impedir qualquer chute rasteiro nas cobranças de falta. Coisa ridícula, que nada impede qualquer tentativa do adversário passar pela barreira. Antes, Zico, Roberto Dinamite e Petkovic, os exemplos mais recentes, conseguiam passar a bola sobre a barreira e colocar a bola no ângulo. Os chutes dos tempos atuais são tão improváveis e incertos que nunca se sabe: a bola vai chegar no objetivo, que é a trave adversária, ou ir para a linha de fundo.
A mídia do futebol está evoluindo cada vez mais, enquanto a regressão é visível com quem deveria tocar a bola com mais qualidade. O que passou a interessar são apenas as vitórias. Pode ser de qualquer jeito. Mesmo que a bola tenha ficado quadrada.
É O QUE NOS RESTA
Uma semana depois do fato é que um site desavisado deu notoriedade a um assunto que não causa nenhum espanto ou mereça ser considerado como notícia e, muito menos, ser de importância. Estou me referindo ao pedido de Joinville em sediar os Jogos Abertos. E não é a fase final. E, sim, trata-se do interesse em estar recebendo a fase regional, uma etapa anterior à grande etapa estadual.
O próprio prefeito Adriano Silva, em reunião com o presidente da Fesporte, Kelvin Nunes, foi levar o documento em que Joinville se candidata para receber os atletas da região Nordeste catarinense para se habilitar às vagas para as finais estaduais, que já teve as desistências de Jaraguá do Sul e de São José.
O pedido não representa que Joinville será atendida pela Fesporte. Os técnicos da Fundação Catarinense de Esportes realizarão uma vistoria para avaliar as condições das instalações da cidade. É notório que Joinville está há muito tempo defasada em se tratando de equipamentos esportivos. Querem exemplos: os ginásios com quadras de dimensões de 40 por 20 metros são raros. Os dois únicos são do Centreventos e do Sesc. O tênis de mesa, com seu local próprio no bairro Boa Vista, está longe das regras atuais, precisando outro espaço para sediar as competições. A bocha não tem cancha olímpica. E por aí afora.
A última competição de grandes proporções que Joinville sediou foram os 21ºs Joguinhos Abertos, em 2008. Na ocasião, estive na presidência da comissão organizadora e, após seu encerramento, entreguei um relatório ao prefeito Marco Tebaldi com o alerta que nenhum outro evento desta envergadura ocorresse na cidade simplesmente por não ter capacidade técnica.
Nada mudou depois de duas décadas. O caderno de encargos, que a Fesporte repassa para os candidatos a sedes de jogos de qualquer natureza, passaram a ter maior número de exigências. Enquanto em Joinville tudo ficou estagnado e até com uma deterioração do que já existia. O Ginásio Ivan Rodrigues foi desativado. A pista de atletismo ainda espera o piso sintético. Não há uma piscina pública, muito menos quadras de tênis.
Interessante que o secretário de Esportes, que assumiu junto com o prefeito em janeiro de 2021, conhecia a estrutura esportiva de Joinville no tempo em que fazia parte da comissão de avaliação do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), quando Joinville se candidatou aos Jogos da Juventude. Entre três candidatos, Joinville deve ter a pior avaliação pela ausência da maioria das exigências.
O ex-integrante do COB, agora secretário da Sesporte, deveria ser o primeiro a incentivar a obtenção de recursos para a construção de um parque esportivo que pudesse dar orgulho a Joinville, mas nada se fala sobre planos e projetos.
GENTE DAS LETRAS
Quando Arthur Schlosser tirou da cartola a ideia de realizar na festa do centenário de Brusque uma competição similar que já existia no interior paulista estava efetivamente criando o maior evento do esporte de Santa Catarina, com as letras de Jasc. Junto trouxe outros nomes que se consagraram no esporte brusquense e catarinense na qualidade de Rubens Facchini e Orlando Pipoca Muller, junto com Rubens Nodari e Alexandre Queiroz.
A partir do desejo dele próprio, Schlosser não se preocupou com o grau de escolaridade de cada um dos colaboradores. A qualidade exigida pelo “Pai dos Jasc” era única e que se resumia na capacidade esportiva.
O que acontece na atualidade, quando o CED (Conselho Estadual de Desportos) fica restrito aos letrados, é que o esporte catarinense passou a expurgar quem esteve atuante ao longo dos anos e precisa ficar longe de sugestões por conta da falta de um diploma de curso superior.
INTERESSE APENAS NO ESPORTE
O Centro Esportivo do Sesi de Blumenau está prestes a ser municipalizado. Isso representa que a prefeitura irá administrar o espaço, uma verdadeira vila olímpica. E estará terminando o martírio dos times profissionais de futebol da cidade, que ficou sem um local para mandar seus jogos pelos campeonatos estaduais e de outra natureza e envergadura. É uma cidade mobilizada para preservar o que conquistou.
A mesma mobilização não se percebe em Joinville, onde o Centro Esportivo do Sesi, em menores proporções, foi simplesmente colocado à venda por não ter um acesso exclusivo para a rodovia Edgar Meister. Os usuários do local aproveitavam as benesses da Univille, que permitia a passagem pelo seu estacionamento.
A Univille deu um prazo para o Sesi deixar de atravessar suas terras. Foi o suficiente para o Sesi se desfazer de um ginásio coberto (abrigou basquete e futsal de Joinville por muito tempo), piscina, campos de futebol e suíço, salão de festas e outras benfeitorias. A desculpa para o Sesi vender tudo foi o alto custo de manutenção.
Quase uma década depois, o Sesi, por intermédio da Fiesc, adquiri o antigo Moinho Joinville. O valor da compra não foi nada barato, fazendo um faraônico projeto que contempla o esporte náutico pelo rio Cachoeira e disfarça com uma proposta visando a educação. É bem provável que para a compra desta ampla área no bairro Bucarein (próxima ao centro da cidade) tenha utilizado a verba da venda do centro esportivo.
Por isso, a Fiesc deveria obrigatoriamente incluir neste novo projeto também o âmbito esportivo, com um verdadeiro ginásio de esportes de acordo com a grandeza de Joinville. Seria a maneira de compensar a força operária da cidade, que ficou sem um local apropriado para praticar suas modalidades preferidas.
Na verdade, o Centro Esportivo do bairro Bom Retiro deveria ter sido construído em outro local – em amplo espaço junto à Expoville, que seria colocado à disposição da municipalidade. E o Sesi ficaria unicamente com o custo da obra e, depois, a sua manutenção. No entanto, a área da zona norte foi adquirida para contemplar quem o sistema desejava. Era um terreno sem saída e que teve acesso unicamente por aproveitar a benevolência da Univille.
Roberto Dias Borba
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