Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes
foto: Déborah Schroeder
“♫ Pois esta vida não está sopa/ e eu pergunto: com que roupa?/ Com que roupa
eu vou/ pro samba que você me convidou?” (Com que roupa?, Noel Rosa)
Para a maioria é ato automático, pela manhã, depois do banho ou
do café, pegar as roupas, vesti-las e sair para o compromisso diário. Alguns ainda
têm tempo – ou paciência – de escolher o traje do dia. Outros são mais
dedicados: deixam tudo preparado na noite anterior... Poucos param para pensar
sobre o futuro delas.
A tecnologia está em alta e as roupas estão cada vez mais
sofisticadas. Existe até um estrangeirismo para tanta inovação: wearables. Ou em
português claro: dispositivos vestíveis.
Além das camisetas
Quando se fala em wearables ou dispositivos vestíveis está-se
referindo a muito mais do que a camisa e a calça de material sofisticado. São
peças vestíveis que estão conectadas a outros dispositivos eletrônicos ou à
internet. Nesse leque se encontram óculos e relógios, e mais. Se dá para vestir e
se está conectado à internet, é wearable.
Estes dispositivos vestíveis podem ser apenas uma brincadeira,
uma diversão, mas podem, também, servir como peças importantes, por exemplo,
de apoio à medicina, ou, mais especificamente, à telemedicina, como diversos
smartwatches existentes no mercado. Na mesma linha, já há pulseiras, de várias
marcas, que possuem a função de pagamento por aproximação.
Sob outra ótica, estão voltando com força os óculos inteligentes
(desculpem o trocadilho), desacreditados tempos atrás. Mais completos, mais
práticos e mais eficientes, Google, Facebook e Microsoft, entre as mais
conhecidas, estão se empenhando para que os novos equipamentos sejam mais
duradouros, apesar das desconfianças de como os cérebros vão lidar com essa
experiência.
Das funcionalidades à moda
Se, por um lado, existem relógios inteligentes com pulseiras
personalizadas, por outro há grifes famosas com camisetas que passam
informações sobre frequência cardíaca ou respiração para o smartphone. Se no
começo dessa era moda-tecnológica as roupas eram desconfortáveis, as
empresas estão se empenhando em torná-las mais agradáveis e práticas de se
usar.
Já em uma edição do Met Gala, um evento para angariar fundos
para Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, há alguns anos, uma modelo
apareceu com um vestido com luzes de led que variavam conforme as reações
nas redes sociais. Daí dá para ter uma ideia de quanto pode ser infinita a
criatividade nestas concepções.
Entre especulações e realidade, o fato é que o segmento dos
dispositivos vestíveis está crescendo, devendo quase quadruplicar entre 2021 e
2028, de acordo com pesquisas da Facts & Factors.
Ao mesmo tempo, este boom do uso de tecnologia vestível que
colhe ou agrega informações pessoais de seus usuários traz outro alerta. Qual o
controle dessas informações? Com quem estão sendo compartilhadas?
Utilizando o exemplo dos soldados americanos que tiveram que
mudar as configurações do aplicativo Strava porque as informações captadas
permitiam identificar bases militares em diversos países do mundo, como ter
certeza de que os dados pessoais que as roupas, relógios, pulseiras e óculos colhem estarão devidamente resguardados de interesses financeiros ou
criminosos?
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