Disrupção: Tudo com Raphael Rocha Lopes
“♫ Words like violence/ Break the silence/ Come crashing in/ Into my little world// All I ever wanted/ All I ever needed is here in my Arms/ Words are very unnecessary/ They can only do harm” (Enjoy the silence; Depeche Mode).
A música tema de hoje foi uma revolução na história da já revolucionária banda Depeche Mode. Depois de muitos sucessos nos anos 80, conseguiu emplacar essa, considerada uma das melhores músicas de bandas eletrônicas de todos os tempos, em 1990. Ela termina com um quase suspiro “enjoy the silence” (aproveite o silêncio).
No final dos anos 80 e início dos anos 90, os dilemas que tomavam o tempo das pessoas eram outros. Não existia internet (não como é hoje, pelo menos). Essa é uma música que fala muito mais do que apenas do silêncio. Fala sobre reflexão, serenidade, paz de espírito.
Saudades de músicas com letras que fazem pensar, bem longe das dores de cotovelo (de um sertanejo universitário que, de tão ruim, nunca se forma) ou cheias de palavrões (em qualquer língua) de hoje. Muitas delas são feitas em fábricas de música, em escala industrial, com qualidade sofrível, mas que, pelo jeito, colam na mente (vazia) de muita gente. Músicas sem significado, sem espírito, sem alma.
O silêncio contemplativo
Recomendo muito a você que está lendo, goste ou não desse gênero de música, independente de sua idade, se adolescente ou com mais de 80 anos, que veja o clipe da música no link abaixo e aumente o som. Nem precisa entender a letra (embora haja vídeos com legenda). A alma dessa música lhe explicará.
Se há mais de três décadas o silêncio talvez fosse quebrado por buzinas, televisão, rádio, videogames, excesso de promessas políticas e alguma dose de negacionismo, hoje o silêncio sonoro ensimesmado existe, mas contaminado pelo excesso de informações nas telas de rolagem infinita das redes sociais, fake news nos grupos de família do WhatsApp, dancinhas do TikTok e violências sem filtro da deep web.
Tudo o que se precisa, às vezes, é uma cadeira de praia com vista para algum horizonte bonito; muitas vezes palavras são muito desnecessárias (escritas ou berradas), pois só machucam.
Ícones
Se esta música icônica dos anos 90 fala de contemplação e minimalismo, a internet hoje impõe o raso e o exagero que, somados, levam à mediocridade.
O acesso a muita informação superficial (e artificial) sem o metabolismo do conhecimento transforma estudiosos de nada em doutores de tudo. A pandemia, as políticas americana e brasileira, a guerra da Ucrânia, as vacinas em geral, as liminares judiciais, para ficar apenas em alguns poucos exemplos, trazem hordas de comentaristas técnicos que nunca leram um livro especializado na vida (alguns tenho dúvida até que tenham lido um livro sequer). E nem vou entrar no mérito das grosserias travestidas de argumentos, pelas quais ofensas aos interlocutores fantasiam-se de liberdade de expressão. Evelyn Beatrice Hall deve estar se revirando em seu túmulo. Voltaire também.
Então, nesse mundo de turbilhões de informações (inúteis e úteis mal aproveitadas), siga-se a sugestão do Depeche Mode: aproveite o silêncio!
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