Foto ilustrativa
Junho de 1994. Dia que a seleção do Brasil empatou com a Suécia pela Copa do Mundo no Dome de Pontiac, cidade na “Grande Detroit” que inspirou o nome de um icônico carro americano. Eu e o companheiro de viagem Antônio Neves deixamos o confortável hotel (em apartamentos separados) em Chicago para seguir viagem naquela manhã até Detroit para assistir o jogo com início previsto para 17 horas. Percurso antes confirmado de três horas. Por via das dúvidas, saímos quatro horas antes. No caminho nos enredamos com a rodovia. Toninho não queria pagar pedágio e optamos por seguir na rodovia (toll free), cujas placas carimbavam sua condição. Mais adiante fomos obrigados a pagar US$ 16 só de uma vez. Não adiantou nada a “economia”.
Como se dizia em Formigueiro, “embocamos” na rodovia e seguimos reto. Eu olhava o relógio (hora de Chicago) e dirigia tranquilo. Não lembro o motivo, mas paramos num pequeno posto às margens da rodovia movimentada. Lá dentro olhei para o relógio que marcava 15 horas e alguns minutos. Conferi no meu pulso e meu “Mondaine” indicava 14 horas e pico. Engraçado, relógio do posto atrasado?? Já estava entrando no carro quando decidi tirar a dúvida e perguntei ao único funcionário sobre o horário do relógio. Descobri por ele que Illinois e Michigan possuem fuso horário diferentes em uma hora. Em Detroit 15 horas mesmo!!!
Deixei o Toninho dirigir o Toyota cor bordô e estiquei o banco para trás e dei uma cochilada. Quando acordei o motorista estava em alta velocidade para compensar o atraso. Olhei no relógio: 16h15. Fiquei preocupado com a alta velocidade, não pelo motorista, mas pela placa que vi à minha direita: “velocidade controlada por radar”. Vamos pegar um monte de “ticket” (multa), pensei em voz alta. Já com o fuso horário de Detroit, chegamos num cruzamento que indicava a placa da Copa do mundo em direção à cidade de “Pontiac” à esquerda. Horário: 17 horas em ponto. Horário do início do jogo.
Dificuldade de encontrar estacionamento, a distância da vaga, espera para comprar ingresso numerado e procurar nossas cadeiras lá no último degrau, atrás da goleira havíamos, nos fizeram perder todo o primeiro tempo. Olhei o placar Suécia 1 x 0 Brasil. Vimos o Romário marcar o gol de empate na goleira do outro lado. Estádio coberto e com ar-condicionado. Na saída o espetáculo da torcida sueca, todos com azul e/ou amarelo, com seus chapéus de Vikings.
Calculando que a viagem para Detroit seria tranquila, paramos no caminho para jantar. Na saída, apalpei meus bolsos em busca da chave e nada. Olhei na ignição e lá estava a chave. Carro fechado com a chave dentro. E agora? Meia hora depois fui informado que não há chaveiro, só guincho. Quanto? US$ 60. Fomos obrigados a pagar. “Fomos” porque Toninho pagou voluntariamente a metade.
Chegamos em Detroit lá pelas 22 horas. Na programação estava jantar com o casal Rodrigo Lobo (pai) de Joinville, convite feito quando nos encontramos no aeroporto de São Paulo. Seria no Hilton depois do jogo. Como já estava tarde e chovendo fomos procurar hotel. Claro que não seria no Hilton. Não sei como entramos numa larga avenida. Nada de hotel. Eis que surge um Motel à esquerda. Vamos? Um indiano nos atende. Um apartamento para cada. Toninho ficou no terceiro andar e eu no primeiro.
Desci e deixei a chave com o hindu.
-Aonde vais?
-Comprar beers. Tem algum bar por perto?
-Sim, à esquerda do outro lado da avenida, no outro block. Mas se eu você não iria. É muito perigoso nesta hora (11 PM).
Não me mijei e fui caminhando. Poucos carros e a chuvinha molhando a calçada. Cinco minutos de caminhada olhando para os lados e entrei num pub. Uns quatro ou cinco afro-americanos ficaram me olhando. “O quê este branco está fazendo aqui?”, devem ter pensado. Na volta apressei o passo. Um carro acabou me seguindo em baixa velocidade. Deu medo, um pouco. Para minha sorte logo surgiu a entrada do Motel. Alivio.
No dia seguinte saímos com sol e paramos num local para tomar café. Em 1994 não existia parquímetro no Brasil. Um hispano nos atendeu no café e informamos onde tínhamos pernoitamos.
--Vocês são loucos! Aquela zona é muito perigosa. A avenida vai dar na antiga fábrica da GM e numa região quase abandonada. Aliviados por sairmos ileso vi um papel no para brisa do carro: ticket de multa por estacionar sem a permissão do parquímetro.
Na volta para Chicago acabei errando o caminho. Umas duas horas na frente o Toninho me chama a atenção.
--Tem muito carro com placa de Ohio. Será que estamos indo para Chicago?
Paramos numa venda de “Firework” na rodovia. Estamos indo em direção ao Estado de Ohio mesmo. Não valeria a pena voltar. Sugestão recebida: ir em frente e pegar à direita mais adiantam na cidade tal. À noite pernoitamos em Fort Wayne e seguimos para Chicago. Jantamos na Pizza Hut e conversei com uma das atendentes. Incrível. O inglês deles quase não dava para entender...
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